Centenas de múmias de filhotes de cães e de chacais foram desobertas num labirinto de túneis sob as areias do deserto egípcio em Saqqara, 40 km ao sul do Cairo. Muitos tinham apenas horas ou poucos dias de vida quando foram mortos e mumificados, mas existem animais de todas as formas, tamanhos e idades. Alguns têm pernas curtas como os da raça bassê, enquanto outros têm pernas longas como os cães de caça. Ao que parece os sacerdotes mumificavam os animais que estivessem à disposição e cujas despesas pudessem ser pagas por aquele que fazia a oferenda. As catacumbas, que não são arquitetonicamente espetaculares nem apresentam qualquer decoração, eram dedicadas ao deus Anúbis.
Embora já fossem conhecidas desde o século 19, nunca haviam sido totalmente escavadas. Uma equipe inglesa de arqueólogos executou essa tarefa no primeiro trimestre de 2011. A estimativa inicial é de que haveria restos de oito milhões de animais. É possível que eles tenham sido criados aos milhares em instalações específicas para a tarefa ao redor de Mênfis, já que não teria sido possível criar cachorros suficientes dentro das instalações do templo de Anubis que existia nas proximidades. Mumificadas de maneira rudimentar e empilhadas, as carcaças já se deterioraram há muito tempo formando montões indistintos, tornando difícil identificar múmias individuais nas galerias ou nas fotos. Em média, as pilhas de restos que enchem os túneis laterais alcançam um metro de altura. Apesar disso, os pesquisadores esperam retirar importantes informações científicas desse achado.
Vários cães machos mais velhos foram mumificados com muito mais cuidado do que os demais e os egiptólogos especulam que eles poderiam ter sido os cachorros sagrados que moravam no templo de Anubis e que eram, segundo a crença egípcia, a manifestação dessa divindade na Terra. Além dos cachorros e chacais ainda havia raposas, mangustos e falcões. Estranhamente, foi encontrado também no local um pequeno número de múmias de gatos. Talvez os felinos tivessem feito do templo o seu ambiente e tenham se tornado sagrados por associação. Outra hipótese é a de que fossem fraudes. Num momento em que não houvessem cães suficientes para atender a demanda, os sacerdotes poderiam ter resolvido mumificar um gato e fazer com que se parecesse com um cachorro. As múmias devem ter sido empilhadas entre o final do 6º século a.C. e o final do 1º século d.C. As pilhas de animais dados em oferendas demonstram o desejo fervoroso dos antigos egípcios de serem ouvidos por Anúbis, assim como hoje as velas nas igrejas mostram a esperança dos fiéis de serem ouvidos por Deus. No caso das velas, a prece segue junto com a fumaça; no outro caso, o espírito de um cão mumificado levaria a oração da pessoa para o reino da vida após a morte. Sendo o mensageiro um animal da mesma espécie da divindade, teria acesso privilegiado à sua orelha e a pessoa garantiria um tipo de linha direta com o deus. Os pesquisadores acreditam que no final do século 19 e até mesmo no começo do século 20 da nossa era tenham sido retiradas múmias dos túneis para uso na fabricação de fertilizantes. Na foto acima, a cabeça de um dos cachorros mumificados.
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